“Durão Barroso será o nosso homem na Europa” 2006-01-02 16:48
Em
entrevista ao “SEMANÁRIO”, Daniel Estulin, que investiga o clube de
Bilderberg há treze anos, fala sobre os portugueses que têm participado
nas suas reuniões, na crise política de 2004 em Portugal
e da influência de Bilderberg na escolha de Durão Barroso para
presidente da Comissão Europeia. Estulin diz que as suas fontes lhe
confirmaram que Henry Kissinger, um membro permanente de Bilderberg,
terá dito o seguinte sobre Durão: é “indiscutivelmente o pior
primeiro-ministro na recente história política. Mas será o nosso homem
na Europa”. Daniel Estulin lançou recentemente
em Portugal o livro “Clube Bilderberg, os Senhores do Mundo”, com
chancela da Temas e Debates.
Quais os portugueses que participaram na reunião de Bilderberg de Stresa, em 2004?
Francisco Pinto Balsemão, Pedro Santana Lopes, José Sócrates. A lista
de participantes portugueses ao longo dos anos é bastante extensa, se
considerarmos o tamanho do país.
Nessa reunião, face ao poderio e influência de Bilderberg e ao
facto de ser um clube predominantemente europeu e americano, alguém
defendeu Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia?
Recordo-lhe que Durão foi escolhido para a Comissão dias depois da
reunião de Bilderberg.
Torna-se importante compreender que é irrelevante quem ocupa a cadeira
de presidente da Comissão Europeia. Durão Barroso representa os
interesses do "governo mundial". Tanto Kissinger como Rockefeller
apoiaram energicamente a candidatura de Durão Barroso para aquele
posto.
Barroso também foi amplamente apoiado pelos bilderbergers americanos em
Stresa, por este ter apoiado a intervenção americana no Iraque. No
entanto, Durão foi resguardado. Recorda-se da tão criticada cimeira dos
Açores, justamente antes da Guerra do Iraque? O consenso na altura foi
no sentido de não considerar Durão Barroso um verdadeiro participante
na cimeira. Agora, começa tudo a fazer sentido. Ele foi afastado para
tornar a sua nomeação para a Comissão Europeia mais apelativa. Desta
forma, ele não fica ligado ao fiasco iraquiano.
Outro dos apoiantes de Barroso foi John Edwards, candidato a
vice-presidente dos EUA, com John Kerry, que também esteve presente nas
reuniões de Bilderberg. Como nota de referência, tenho relatórios de
várias fontes internas da reunião de Bilderberg que referem a fraca
capacidade oral e a fraca personalidade de Barroso. Decidiu-se mesmo
limitar as suas aparições em público ao mínimo. Kissinger, um membro
permanente de Bilderberg, chegou ao ponto de o chamar, "off the
record", "indiscutivelmente o pior primeiro ministro na recente
história política. Mas será o nosso homem na Europa".
Santana Lopes esteve presente em Stresa e um mês depois era primeiro-ministro. Há alguma relação nestes dois factos?
Aprendi ao longo dos anos a seguir de perto todos os passos dos
bilderbergers nas semanas que se seguem à sua reunião anual. Por
exemplo, logo a seguir à reunião anual de Stresa, Itália (3-6 de Junho),
gerou-se uma crise política em Portugal, que teve o seu fim no final do
mês. Durão Barroso, primeiro ministro (agora presidente da Comissão
Europeia), demitiu-se oficialmente a 29 de Junho. O rumor à volta do
nome de Santana Lopes como futuro primeiro-ministro é lançado por volta
de 28 de Junho. Curiosamente, é nesse dia que ele afirma não ser
verdade que tenha sido convidado para participar na reunião anual de
Bilderberg. Isso foi até alguém mostrar-lhe uma foto que eu tirei em
Stresa.
Muito tem sido dito acerca de Barroso ter escolhido o seu companheiro
do PSD, Santana Lopes, para seu sucessor. Essa escolha foi intencional,
como toda a confusão que se seguiu. O que as pessoas não sabem é que a
falsa noção de democracia é suposto ser isso mesmo - um truque. A
esquerda e a direita são propriedade dos bilderbergers, não só em
Portugal como em todos os países. Barroso é um bilderberger, assim como
Sampaio, Lopes, Sócrates, etc. Na Alemanha, tanto Merkel como
Schroeder, estavam presentes na conferência deste ano. Da Espanha,
Rato, presidente do FMI e ex-ministro das Finanças de Aznar, esteve
presente em Rottach-Egern, este ano. O conselheiro económico-chave de
Zapatero, Miguel de Sebastian, também lá esteve. Blair é um
bilderberger, assim como Kenneth Clarke, um dos membros-chave dos
conservadores britânicos e, supostamente, um dos seus maiores inimigos.
Em relação a Santana Lopes, pude confirmar junto de três fontes
independentes que a conversa de final de tarde a 4 de Junho de 2004
(durante a reunião de Bilderberger em Stresa), andou à volta do plano
de Santana em mudar a Constituição portuguesa, para criar um nova
instituição de poder, um Senado, em que o governo poderia nomear
senadores vitalícios. O que conduziu à resposta sarcástica de Richard
Haass, presidente da CFR (Trilateral): "Não soa muito a uma tentativa
genuína de reforma democrática."
À semelhança de Santana, Sócrates também participou na reunião
de Stresa e menos de um ano depois também era primeiro-ministro...
Tive
acesso a informação contraditória pelas minhas fontes, algumas delas a
dizer que Sócrates foi colocado para criar ainda mais descontentamento
dentro das suas próprias fileiras. Outros dizem que o seu verdadeiro
propósito ainda está por ser determinado.
Quem levou Santana e Sócrates para a reunião de Bilderberg de 2004?
Pinto Balsemão, o homem mais poderoso em Portugal e um membro-chave do
todo poderoso comité de decisão da Bilderberg. Pinto Balsemão é o mais
importante bilderberger português. Desde o início dos anos noventa que
é um um membro permanente do comité de decisão (steering) de
Bilderberger, significando que pertence a um grupo de pessoas que tomam
as decisões finais acerca dos proponentes, temas de agenda, etc. Ele é
o "homem bilderberger em Portugal". Nenhuma decisão pode ser tomada sem
o seu selo de aprovação. Presidentes e primeiros-ministros vão e vêm,
mas Balsemão permanece. É a solitária sombra do poder.
O ex-ministro Morais Sarmento participou na reunião deste ano de Bilderberg. Também foi Balsemão quem o convidou?
Também foi Pinto Balsemão quem o levou.
Paulo Portas, um ex-ministro do Partido Popular, nunca esteve em Bilderberg?
Portas nunca esteve presente em nenhuma reunião de Bilderberg. Não sei
porquê. Balsemão nunca me disse (irónico). No entanto, pelo que pude
apurar das minhas fontes, Portas não oferece garantias aos próprios
bilderbergs.
O clube tem mesmo influência política a nível mundial ou foi já um mito que se criou?
Para além do que já referi, até sobre Portugal, gostaria de usar como
exemplo da influência de Bilderberg as eleições alemãs de 2005. Na
conferência de Bilderberger em Rottach-Egern, os bilderbergers queriam
mudar a imagem enfadonha de Angela Merkel, a "futura líder" da Alemanha
nas eleições alemãs a 18 de Setembro. Um homem bilderberger deu a
opinião que para que os eleitores alemães pudessem aceitar Merkel como
chanceler seria importante dar uma nova definição do termo valores de
família. Bilderbergers alemães bem versados na psique colectiva
bavariana acreditavam que a imagem de Merkel, uma divorciada com um
doutoramento em física, não seria considerada de "confiança", por forma
a atrair votos suficientes nesta firme área conservadora do país.
Seria, então, importante enfatizar a importância do conceito de
família. E esta estratégia foi aplicada nas eleições.
Sobre Merkel, recordo, ainda, que com os Bilderbergers a colocar de
parte Schroeder a favor de um novo candidato, isto poderia significar
que após três anos de guerrilha entre bilderbergers americanos e
europeus em torno da guerra do Iraque, o clube estaria pronto para
colocar em marcha uma política mais coesa. Lembre-se que Schroeder,
assim como o Presidente Chirac, eram dos mais vociferantes críticos da
intervenção americana no Iraque. Schroeder, representando a esquerda, e
Merkel, representando a direita, são propriedade dos Bilderbergers.
Apesar de Bush junior não estar presente pessoalmente na reunião
secreta em Rottach-Egern, o governo americano estava bem representado
por William Luti, Richard Perle e Dennis Ross do Instituto de
Washington de Near East Policy.
Os participantes de Bilderberg não falam que estiveram
presentes nas reuniões e muitas vezes desmentem mesmo que tenham lá
estado...
Os participantes do clube estão explicitamente proibidos de discutir Bilderberg em público.
O que foi discutido em Stresa, em 2004?
Para além do que já disse, outro dos items de Stresa esteve relacionado
com a "liberalização dos mercados mundiais". Os bilderbergers sempre
estiveram a favor de extremo liberalismo. Estamos a chegar a um nível
profundo de liberalismo com tendência a ser restaurado em máxima força
nas suas crenças e credo. Historicamente, o liberalismo sempre
reivindicou três liberdades: liberdade de mão de obra. Isso não
significa que os trabalhadores serão livres, mas que o povo será livre
de se mover de um país para o outro, uma região para outra. Para os
bilderbergers isso é muito importante. Significa que os patrões terão
um livre acesso a uma grande massa de mão-de-obra. Quanto mais global
for, melhor. Liberdade de solo: significando que o solo é tão
importante como qualquer outra mercadoria. Liberdade de moeda. Em que o
dinheiro também é uma mercadoria como qualquer outra. Recordo que a
primeira vaga de liberalismo desvaneceu-se entre 1920-1930, após ter
feitos muitos estragos nas sociedades americanas e europeias. O seu
sistema afirmava que se tudo for livre e as empresas não efectuarem
cartéis ou monopólios, com nenhum trabalhador a pertencer às centrais
sindicais, o sistema irá enriquecer toda a gente. Isto é uma perfeita
utopia, mas baseados nas obras de economistas laureados com o Prémio
Nobel da Economia, bem como desenvolvimentos matemáticos, isto parece
aos seus olhos verdade. O sistema exige que cada país do mundo seja
incluído, e que cada indivíduo seja eficaz. É por isto que o
liberalismo e a globalização trabalham tão bem juntos. Como é por isto
que existe o grupo Bilderberg.
Portugal recebeu, em 1999, uma primeira reunião de Bilderberg, que teve lugar em Sintra. O que foi aí discutido?
Um dos itens principais teve a ver com o comércio de ouro e a posição
da Inglaterra na União Europeia. Em Sintra os bilderbergers decidiram
castigar a Inglaterra pela sua contínua resistência em relação ao
espírito federal europeu. O método que estavam preparados a utilizar
contra os inocentes britânicos seria o de um ataque frontal ao comércio
de barras de ouro. Um grupo restrito de Bilderberg, onde estavam
Rockefeller, Kissinger, Victor Halberstadt, professor de economia da
Universidade de Leiden, Etienne Davignon e Umberto Agnelli, reuniu com
os governadores dos Bancos Centrais da Europa. A seguir à reunião de
Sintra, a maioria dos Bancos Centrais, em Setembro de 1999, fizeram uma
supreendente declaração em que estariam a adiar, por cinco anos, o
dumping de ouro, que previamente teriam feito, supostamente porque já
não gostavam de ter ouro nas suas reservas. O anúncio causou um
tendência de subida nas barras de ouro. O Banco de Inglaterra organizou
um leilão de ouro de algumas supostas reservas. O mais impressionante
para alguns de nós, não familiarizados com o comércio do ouro e a sua
realidade, é que, na realidade, uma barra de ouro quase nunca é
comercializada. Dessa forma o Banco de Inglaterra estaria a oferecer
ouro "teórico" (apenas em papel), não o verdadeiro ouro que tinha em
sua posse. Quando o bilderberger George Soros descobriu, lançou um
ataque ao Banco de Inglaterra, causando que o preço do ouro aumentasse
para quase 330 dólares a onça.
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